Algarve Biblico: Parte II - Bêbados e Drogados que Maltratam Crianças

Viriato Villas-Boas
39 min readApr 8, 2024

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O Algarve Pelos Olhos de um Algarvio

Motivado pela identificação de um padrão maior de fatores que influenciam o rumo do Algarve, e uma necessidade de averiguar a veracidade de alguns estereótipos mais pervasivos em relação á região e aos seus habitantes, publiquei um artigo denominado “Algarve Bíblico: Pecados, Fome e Sol — Numa Região de Joelhos mas que já não Reza”.

A premissa de tal reflexão focou-se em investigar se os meus conterrâneos e região-berço serão realmente ‘preguiçosos que trabalham três meses por ano’; e como tal responsáveis pelas condições precárias e consequente sofrimento sentidos e documentados.

Os resultados, com base na investigação e argumentação apresentados no artigo indicaram deveras que o algarvio imaginado em mentes de pessoas distantes, e que apenas se lembram da região três vezes por ano, não corresponde á realidade no terreno.

Quando publicado, o artigo recebeu diversos tipos de feedback, maioritariamente oriundos de pessoas com a sofisticação intelectual necessária para o compreender — com uma exceção: um ex-algarvio, que achou por bem ignorar completamente todos os argumentos apresentados, assim como os factos e números citados, e prosseguir com a falsa narrativa de que a maioria dos algarvios correspondem aquele Ser estereotipado nas mentes de pessoas com complexos de superioridade em relação aos mesmos.

Por norma, reconheço que não se devam alimentar comentários arremessados avulsos em redes sociais. Porém creio que a falta de eloquência e teimosia não substanciada (para não falar do puro desdém) expressados nesses comentários, correspondem a um padrão de atitudes e comportamentos para com Algarvios que tenho testemunhado e sentido desde que me lembro de ter coisas para lembrar. Como tal, esta não é uma resposta ad hominem a comentários tóxicos no Instagram, mas sim uma desconstrução aprofundada das já cansativas acusações de insuficiências do Algarve e seus habitantes.

O conceito de verdade, assim como a racionalidade em si, estão sob ataque nos dias em que vivemos, e uma defesa dos mesmos — independentemente da maneira como é ‘empacotada’ — é sempre legitima, necessária, e uma quase obrigação sociomoral e intelectual.

Apresento então, na integra — com os erros ortográficos e gramáticos amenizados (por respeito pelo comentador e os leitores) — os comentários depositados no post de Instagram do artigo em questão. Como seria expectável, omito a identidade do autor dos mesmos, referindo-me ao mesmo como ‘Comentador’. Tomo também a liberdade de anexar as minhas respostas (também com as correções adequadas), após a bibliografia utilizada na fundamentação das refutações.

Comentário #1

“O Algarve está entregue aos porcos🤣 isso é tudo verdade. Mas os residentes também são do tipo, ‘não tenho dinheiro para me aguentar até ao fim do mês, mas hoje tenho uns trocos, então bora aí até ao café beber uma mini, ou bora aí àquele grande festão que não é feito para o meu bolso, mas só se vive uma vez então bora aí gastar tudo hoje.’ Been there, done that 😜.”

“O Algarve está entregue aos porcos, isso é tudo verdade.”

Esta linha de pensamento ou pseudocrítica implica (pelo menos) duas coisas de extrema relevância.

Em primeiro lugar, a mitologia das personagens/entidades/pessoas/instituições/organizações (etc.) invisíveis, que nos controlam e subjugam com poderes quase mágicos, diz mais acerca de quem arremessa essas proverbiais ‘papaias’ — com desdém e sentido de superioridade intelectual que não é merecida -, que realmente o tópico em discussão ou o seu autor. É o equivalente intelectual daqueles indivíduos que se injetam com synthol para criarem a aparência de superioridade muscular, e quando se vai aplicar a prova de factos, só sobra o primeiro impacto visual e nenhuma consistência.

Independentemente da eficácia ou corrupção dos mesmos, o nosso mundo está organizado por sistemas interdependentes e extremamente complexos. Sistemas esses que, por sua vez, são afetados por um conjunto de ações que vão desde o individuo que vota numas eleições autárquicas, até, por exemplo, a umas Nações Unidas.

Não é um processo simples de se perceber na prática, e os sistemas de interações humanas e políticas nele representadas nem sempre cumprem os compromissos que lhes atribuíram o mandato de existência.

Como tal, ‘Eles’ (‘Eles mandam nisto tudo’; ‘Eles querem-nos lixar’; ‘Eles não querem saber de nós’; etc), que é outra forma de dizer ‘Os Porcos’, não existem, e temos de enfrentar uma realidade muito mais assustadora que uma mão invisível conspiratória:

Estamos á mercê de sistemas criados por seres humanos, informados por seres humanos, e refletivos das fragilidades, limitações e ‘maldades’ de seres humanos. Nunca vão existir entidades mágicas, a flutuar sobre a nossa cabeça, a manipular ‘os fantoches’ do sistema; porque o sistema somos todos nós — quer queiramos ou não.

Em segundo lugar, ao estarmos inseridos em sistemas falíveis (mas desmanteláveis ou reformáveis) também é assustador: pois acaba-se assim qualquer desculpa para inércia e comentários de bancada. O desaparecimento da mitologia implica automaticamente a revelação do individuo. E ninguém quer estar na posição de gritar ‘O Rei vai nu!’, quando não há Rei, e quem está realmente nu é o comentador.

Problemas complexos, exigem soluções complexas. ‘Os Porcos’, sejam eles quem forem, não caminham mais depressa para o matadouro porque alguém grita por eles sem os ver nem saber quem são — nem se existem.

Ninguém tem de nascer ensinado, e concedo que a informação e ensino necessários para poder compreender os sistemas em que nos inserimos, e como os mesmos afetam a nossa vida, são, na melhor das hipóteses, deficientes. Mas aprendemos desde pequeninos que quando tapamos os próprios olhos, o mundo não desaparece, e só porque não vemos algo, não quer dizer que não exista. Adicionalmente, só porque algo não faz sentido imediato (por não estar em frente aos nossos olhos) não quer dizer que tenhamos que inventar coisas que não existam.

Reconhecer que não existem fantasmas ou bestas mitológicas, implica automaticamente que temos algum poder sobre o mundo que nos rodeia, e sobre as nossas vidas (independentemente dos níveis e escalões de condicionamento) — nem que seja o poder de nos começarmos a educar.

“Mas os residentes também são do tipo, ‘não tenho dinheiro para me aguentar até ao fim do mês, mas hoje tenho uns trocos, então bora aí até ao café beber uma mini, ou bora aí àquele grande festão que não é feito para o meu bolso, mas só se vive uma vez então bora aí gastar tudo hoje. Been there, done that’’’

Se tivesse que resumir esta (falta de) lógica numa frase seria: ‘Os residentes do Algarve, são assim, porque eu fui assim’.

Não sou adepto, por norma, de fazer juízos de valor acerca de indivíduos. Mas, quando o comentador se põe nessa mesma posição para justificar ideias e opiniões nocivas, corrosivas, e que denigrem toda uma população, a minha escolha acerca de tal modus operandi torna-se limitada.

Todos nós (os mais sortudos, pelo menos) já cometemos erros, enveredámos por caminhos de excessos, ou simplesmente fomos ou somos jovens a replicar o comportamento natural dos mesmos. Erros esses motivados por condicionamentos e referências culturais, ou pelo contexto atual de socialização indispensável á formação de seres humanos funcionais — o Homem e Mulher são, no fim de contas, animais sociais, como aprendemos desde muito cedo.

Demonizar toda uma região com base em comportamentos que fazem parte do quotidiano de qualquer país cultural e socialmente alinhado com Portugal, é desleal e intelectualmente falido. Porque se fosse em Lisboa, ou em Londres, já seria aceitável e isento de critica?

Adicionalmente, esta ‘irresponsabilidade’ socioeconómica, que foi também cometida pelo comentador, só se encontra disponível ao mesmo? Se todos os que fazem o que ele mesmo fez são coculpados (juntamente com os ‘Porcos’) pela degradação do Algarve — e consequentemente responsáveis pelo sofrimento e miséria presentemente experienciados — então estes comentários só podem ser uma admissão de culpa desse mesmo crime, e não uma critica construtiva. Se o comentador realmente acredita na ignorância que dissipa por entre redes sociais, então o mesmo, tendo tido em tempos as mesmas atitudes, não faz também parte do problema que agora deposita nos ombros dos outros?

De uma perspetiva mais analítica (e na ausência de provas concretas de que esta é a realidade — e muito menos a causa da miséria experienciada no Algarve), pode-se sugerir então que a tentativa de criar a ilusão que alguns comportamentos são a regra do quotidiano da região, o comentador tenta assim normalizar as suas próprias falhas passadas e insuficiências.

Noutras palavras: Se todos o fazem, é normal; e se é normal, logo não fiz parte do problema que agora garanto existir.

Enfim, uma ginástica mental de nível olímpico, que não é suficiente para ser apurada para nenhuma arena que se respeite.

Também fiz asneiras, e muitas. Mas não as descarrego nos ombros de terceiros, não me escondo atrás de uma normalização imaginária para as justificar, e muito menos as instrumentalizo na racionalização do sofrimento de uma população inteira.

Assumo os meus erros, os meus excessos. Assumo que os cometi, e não responsabilizo mais ninguém sem ser a mim próprio. Assim como também aceito que os mesmos não representam ninguém, sem ser a mim próprio e os contextos particulares em que me encontrava inserido.

Finalmente, reconheço também que os meus erros não são suficientes para condenar uma região inteira a uma existência de joelhos — Não sou assim tão importante.

Comentário #2

“Estás-me a querer jogar areia pos olhos com palavras compridas? 🤣 “tu e os teus” fazem parte da minoria. A maioria ta desejando sair do trabalho para ir para o café.”

“Estás-me a querer jogar areia pos olhos com palavras compridas?”

Este pseudo-contra-argumento tem sido um tema e acusação recorrente em debates e trocas de ideias mais aprofundadas na minha vida; e tomo a liberdade de ilustrar o ponto em questão com uma citação de outra pessoa, noutro contexto, noutro tópico, em que fui acusado de: “manipular as pessoas [sic]” porque “tu usas palavras complicadas [sic]”.

Certamente escreverei mais aprofundadamente sobre o assunto, pois creio que o mesmo poderá ser indicativo de tendências um pouco mais preocupantes; e que refletem algo mais que a óbvia ignorância e insegurança do individuo em si.

Reconheço que nem todos os que trocam impressões ou ideias comigo sejam obrigados a ter engolido um dicionário para ter a legitimidade de o fazer. Não sou adepto de snobismos ativos. Mas, também não creio ser legitimo manipular a minha articulação verbal (que não é de um nível assim tão extraordinário), de modo a apresentar a mesma como algo inerentemente negativo ou malévolo.

Noutras palavras, eu falo como falo, não exijo que ninguém o faça como eu, e tenho tolerância e humildade para aceitar que:

(1) Quando não sei algo, pergunto (seja um conceito, ou uma palavra) e

(2) Só porque não compreendo algo, o mesmo não é necessariamente um ataque à minha pessoa ou um esquema de manipulação ou subversão.

Princípios que creio ser transversais a tudo que constitui a experiência humana (roupa, escolhas deitarias, identidade de género ou sexual, cor preferida, etc⁴∞) — desde que não contribua para o sofrimento ou mal-estar de outros seres –: cada um tem o direito a se expressar e ser como é (ou deveria).

A acusação de que as ‘palavras compridas’ servem para ‘jogar areia nos olhos’, é então (consciente ou inconscientemente) uma tentativa de ‘nivelar por baixo’, de descredibilizar pontos válidos só porque não queremos conceder que:

(1) estamos errados, ou

(2) o nosso orgulho (ou outro fator mais obscuro) não nos permite admitir a nossa falta de compreensão.

Qualquer tipo de desenvolvimento intelectual e social nunca poderá acontecer de forma eficaz enquanto não estivermos confortáveis com a impossibilidade de saber tudo acerca de tudo. E enquanto não priorizarmos tal consciencialização, a quebra de diálogo em vez da construção conjunta de soluções continuará a definir uma grande parte das nossas interações.

Outro ponto relevante, como podemos observar, é que o mesmo reflete mais acerca de quem o escreve, de que a quem o mesmo se destina.

Através da acusação de manipulação, o comentador expõe a sua própria ignorância e arrogância, admitindo que não sabe, não quer saber, e tem aversão a quem sabe. Aproveitando para deixar bem claro que o primeiro (‘não saber’) não é algo problemático, se a produtividade do mesmo não for castrada pelo passo seguinte (‘não querer saber’). Este ponto reflete também um padrão social maior — o qual não desenvolverei na integra neste artigo — que nos pressiona a sair ‘da idade dos porquês’ precocemente. Refletindo sistemas socioculturais que demonizam a admissão da ausência de conhecimento, e que consequentemente limitam a nossa capacidade de mudar de opinião, de ser flexíveis na face de nova informação, e nos reduzem a meros agentes de reação a estímulos emocionais.

Identifico, consequentemente, uma grande necessidade de normalizar o ‘não sei’, para que o orgulho e medo de ridicularização não guiem as nossas interações, e reações. Não tenho vergonha de não saber tudo, assumo-o diariamente, e cresço mais, e mais rapidamente, como Ser Humano por isso. Convido a todos a experimentarem esta estratégia, a trabalharem a sua imunidade intelectual na face de comportamentos e posturas que glorificam e engrandecem a ‘Ignorância’ — e que para esse fim utilizam as mais variadas estratégias de bullying e ridicularização.

E em tom bem pessoal: acho indivíduos que sentem a necessidade de recorrer a tais mecanismos só tristes e ridículos.

“Tu e os teus” fazem parte da minoria. A maioria ta desejando sair do trabalho pa ir po café.”

Um tema recorrente desta troca de comentários, é a certeza inabalável de afirmações especulatórias e sem fundamentos concretos. Compreendo que alguns destes pontos dão um trabalho considerável a pesquisar, com alguns dados sendo mesmos inexistentes. Um dos desafios mais consideráveis desta presente refutação é a procura de dados concretos acerca das várias acusações feitas pelo comentador. O que reflete também algo em relação às tendências intelectuais da nossa atualidade: o arremesso de frases a avulso, fáceis de compreender, em tons expressamente emocionais, e difíceis de provar e refutar. Uma mentira fácil de compreender, é mais bem-vinda que uma verdade difícil de comprovar.

Assim se contribui para a propagação de desinformação, assim como, neste caso em particular, a perpetuação de estereótipos negativos acerca de toda uma população.

De acordo com a escassa informação de fácil acesso disponível, o Algarve é a região do nosso país onde se trabalham mais horas; sendo também Portugal um dos países onde se trabalham mais horas no contexto da União Europeia.

Ou seja, apesar do orgulho que sinto ‘nos meus’, simplesmente — e em bom português — a sugestão de que somos uma minoria porque trabalhamos e fazemos muito, é mentira. E considerando as repercussões que tamanhas mentiras têm para a saúde de toda uma região, no mínimo um pedido de desculpas (que sei que não virá) ficaria bem.

Mais que ter razão á força, e sentir que ‘os meus’ são muito especiais, quero construir realidades melhores e com base na verdade.

No que toca a essa ‘maioria’ que só quer ir para o café quando saí do trabalho, a mesma é factualmente inexistente — e um produto de num imaginário amargo e malicioso. A verdade é que, além das longas horas trabalhadas, acresce uma insatisfação laboral muito acima da média, que contradiz a narrativa fictícia e implícita de que os Algarvios ‘não querem fazer nenhum’. Também é relevante considerar que o Algarve tem dos salários mais baixos do país e da União Europeia.

Ou seja, se já constatamos que os Algarvios trabalham horas acima de uma média nacional (que está também acima da média internacional), que os mesmos não têm razões nem condições para se sentir bem num contexto laboral, e ainda são pagos muito abaixo do que merecem… É evidente que, no mínimo queiram descomprimir no café e não passar horas extra num contexto que só pode ser categorizado como sub-humano.

Será que nem a um café têm direito depois de um dia de quase-exploração laboral? Será que deveriam levar um saco de cama para o local de trabalho e dormir lá? E se tal se concretizar, será que se deveriam cortar ainda mais os salários, dada a ausência de custos de habitação?

Nem me atrevo a falar de sorrisos e saúde mental…

Em cima da falta de veracidade, e da propagação de mentiras (fatores de cariz intelectual e moral), acresce também uma palpável falta de empatia por parte do comentador. Aparentemente é mais fácil culpar as vítimas de um sistema político, social e laboral opressor e explorador, que realmente identificar as causas do problema — mesmo quando as mesmas são apresentadas de forma acessível, estudada, e racional.

Uma postura intelectualmente agressiva e desonesta, que seria mais expectável (mas nunca justificável) de alguém que não fosse nativo, e criado, na região.

Comentário #3

“Pinta-lhe da maneira que quiseres mano…quem tem olhos na cara sabe do que estou a falar. Tentar mudar quem manda não resulta muito quando quem está a ser “explorado” mete se a jeito. Não se pode esperar viver uma vida de bebedeiras na adolescência e chegar a adulto com dinheiro no bolso. A não ser que os pais te levem ao colo, ou seres filho de alguém que já sacrificou algo para os filhos andarem a reclamar de barriga cheia.”

“Pinta-lhe da maneira que quiseres mano…quem tem olhos na cara sabe do que estou a falar.”

Creio que a vasta maioria da população humana global tem realmente, olhos na cara, mas não vou assumir que sei tudo — algo que algumas pessoas poderiam começar — e afirmar que todas as pessoas têm realmente olhos na cara; Caso haja alguma síndrome que eu desconheça e que resulte realmente no aparecimento de olhos noutros lugares do corpo (isto, claro, falando literalmente, e não proverbialmente).

Ou seja, nem nas analogias se encontra uma gota de veracidade nas afirmações do comentador.

Enfim, um ponto que não é relevante, nem importante o suficiente para fazer pesquisa ou gastar mais palavras.

“Tentar mudar quem manda não resulta muito quando quem está a ser “explorado” mete se a jeito.”

Não me sujeitando a mim, nem aos leitores, a repetições, apenas pergunto: quem manda? E no quê? Referenciando a lógica suprarreferida dos ‘Eles’ — distantes, mitológicos e conspiradores. Reiterando que, os sistemas que afetam a governança e desenvolvimento locais, regionais, nacionais (e por aí fora), são muito mais complexos que comentários ignorantes, simplistas e incendiários. Falemos de factos, não de fantasias.

No que toca a ‘exploração’, o mesmo é um termo que representa o sofrimento real de várias pessoas no Algarve e além. Sofrimento desvalorizado, ridicularizado e trivializado por meras ‘aspas’, escritas pelas pontas de dedos tão distantes dessas mesmas pessoas: geográfica, intelectual e emocionalmente. Independentemente de articulação ou sofisticação de pensamento, a empatia deveria ser um motivador universal das ações e verbalizações que escolhemos trazer ao mundo.

Só quem sofreu muito pouco ou nada, e carece de qualquer imaginação, é capaz de embaratecer ou negar a experiência coletiva de todos os que dele são diferentes. Não temos que ser todos académicos (e ainda bem que não o somos), mas a capacidade de simplesmente sermos Humanos deveria ser intuitiva e não dificilmente adquirida (e ainda, muito menos rejeitada).

Apesar dos casos de exploração laboral exclusivos ao Algarve serem pouco documentados, o fenómeno está universalmente reportado; Não estando Portugal isento desse mesmo mal. Relembrado sempre que o Algarve está enquadrado num contexto nacional, e não é um espaço habitado e constituído por pessoas mais o menos morais ou capazes que a média do resto do país — tanto na ótica do oprimido como do opressor.

Adicionalmente, além do extremo que é a exploração, existe todo um registo de abusos laborais no Algarve (e no resto do território nacional), documentados além dos confins de comentários especulatórios em redes sociais.

“Não se pode esperar viver uma vida de bebedeiras na adolescência e chegar a adulto com dinheiro no bolso. A não ser que os pais te levem ao colo, ou seres filho de alguém que já sacrificou algo para os filhos andarem a reclamar de barriga cheia.”

Se enveredarmos pela linha da especulação imaginativa, a lógica realmente, faz sentido. Jovens adolescentes que gastem todos os seus recursos monetários compulsivamente em álcool, nada juntarão para o futuro. E os que não acabarem mortos, presos, ou a viver debaixo da preverbial ponte, serão aqueles que têm acesso a recursos externos, como os concebidos pelos pais.

Mas nem no mundo das imaginações criativas, o comentador consegue manter uma linha de pensamento coerente, pois segundo o mesmo os pais que podem apoiar os filhos na linha do abismo, são só aqueles que sacrificaram algo.

Ou seja, aparentemente, não existe riqueza intergeracional — riqueza que tenha sido herdada ao longo de gerações passadas, e que não tiveram de sofrer para a ganhar.

Mesmo no contexto da fantasia, a crenças emocionais (e não intelectuais) do comentador se tornam óbvias, pois o mesmo revela que, na sua ótica, apenas através do sacrifício é possível aceder a qualquer tipo de recursos, riqueza, posses, etc.

Esta glamourização do sofrimento reflete a linha moral de ‘pensamento’ (se é que se pode classificar como tal) deste individuo, que é reminiscente das vertentes de algo que decorava os portões de campos de concentração do Terceiro Reich — como o famoso Auschwitz -: “Arbeit Macht Frei”, ou, “O Trabalho Liberta”.

Adicionalmente (mesmo após uma pesquisa aprofundada), não existem dados que corroborem as acusações feitas pelo comentador. O que existe é um padrão nacional de impotência socioeconómica que dificulta a desvinculação da dependência dos progenitores; Como ilustrada pela dificuldade de sair da casa dos mesmos, por exemplo.

Visto que estas críticas destrutivas são direcionadas ao Algarve e aos seus habitantes, mais uma vez, não existem quaisquer fundamentos para apoiar a ‘tese’ de que os Algarvios são menos trabalhadores e menos capazes que o resto do país; apesar das especificações e condicionantes particulares de cada região.

Em relação á acusação de que uma população e geração inteiras estão a “reclamar de barriga cheia”, a mesma reflete mais uma vez preconceitos não fundamentados para com os conterrâneos do comentador. O argumento reflete uma ignorância ativa de que existe, de uma forma muita concreta e documentada (por exemplo, pelo Banco Alimentar, e as mais de 27.000 pessoas que assiste na região), fome no Algarve.

Nesse contexto, e não querendo reescrever o artigo que motivou esta troca de interações, convido o leitor a consultar o mesmo para uma observação mais aprofundada acerca da precária e assombradora situação social, económica e habitacional no Algarve.

Adicionalmente, ignorar a existência de problemas — e ter alguma irritação para com quem os expõe — não só é contraprodutivo, como é antilógico.

Rotular análises com base em dados concretos de “reclamar”, e nessa mesma linha de pensamento (ou falta dele) fazer acusações fundamentadas por discriminação e imaginação, é um contrassenso gigante — Visto que “reclamar”, no sentido derrogatório expressado pelo comentador, é exatamente o que o mesmo faz.

Será que um médico que diagnostica uma doença com base nos exames efetuados, está só a ‘reclamar’ com o paciente?

Enfim, independentemente do que escolhermos ser, ao menos que sejamos coerentes.

Comentário #4

“Aborreces-me com tanto palavreado… quase que tenho de voltar para a escola para perceber o que dizes🤣 queres dados? Espera pelo fim de semana, ou pela próxima “ladies night” ou o próximo jogo de futebol. Continuas a bater na tecla do eu estar longe como se o que se passa aí fosse algum segredo😂 parte do problema e não da solução são pessoas que falam muito. O que tu estás a fazer e normalizar a vida que nos levou a chegar a esse ponto. A próxima geração vai continuar a pensar que tem o direito de viver essa vida sem consequências. Pessoas que te dão razão são pessoas que gostam de se vitimizar, neste momento tao a pensar “tens toda a razão Viriato, vem ai o verão e eu não posso kurtir [sic] o meu algarve como os turistas fazem”. Porque qualquer pessoa com dois dedos de testa consegue olhar para trás e ver as oportunidades que desperdiçaram e não as que lhes tiraram. Mais uma vez, tu e os teus são uma minoria muito pequena. A maioria continua a pensar que a “vida são dois dias”. Tenta mudar a maneira de pensar do algarvio, aí e que devia estar o foco, e não em continuar a criar futuras gerações que pensam que sem esforço tudo se consegue. Um ditado muito antigo, ‘queres ter o meu viver? Trabalha, malandro’”

Comentário #4.1

“Com isto quero dizer que, nunca vais mudar os de cima sem mudares os de baixo primeiro”

“Aborreces-me com tanto palavreado… quase que tenho de voltar para a escola para perceber o que dizes”

Toquei neste ponto em relativa profundidade na resposta ao comentário #2. Por isso, de forma muito simplificada: a ridicularização de quem se articula de forma relativamente eloquente, é em si ridículo.

A glorificação da ignorância, e consequente dissimulação de informação (comprovada como) falsa, diz muito mais acerca do comentador do que do debate em si; expondo também as inseguranças óbvias de quem escreve tamanhas ‘burrices’ (pode ser que o termo seja suficientemente simples para ser percebido).

No que toca a “voltar á escola”, a expansão e aprofundamento de conhecimento e capacidades nunca fez mal a ninguém. Tento estar a par das minhas limitações, e reconheço que quando as mesmas se tornam incapacitantes para a minha ação e agência sobre qualquer área da vida, tento-me tornar melhor, aprender com quem sabe, e procurar colmatar tais lacunas.

O oposto, e o que transparece neste comentário, é o equivalente a estar num barco, ver água a entrar por um buraco, e, por não saber concertar o problema, simplesmente ficar a gritar com o buraco enquanto ridicularizo quem possui o conhecimento necessário para o tapar. Estaríamos todos melhor e mais seguros se tentasse adquirir as capacidades necessárias para resolver o problema, ou se saísse da frente de quem as tem.

Adicionalmente, só posso interpretar como um elogio e sentido de ‘missão cumprida’ se realmente consegui motivar alguém a ‘voltar á escola’ — leia-se: aprofundar os seus conhecimentos.

Numa uma última reflecção: além de reconhecer que ninguém tem de saber tudo, por norma, tento não interagir em campos de ação que não compreendo, ou sei ter capacidades insuficientes para interagir com eficácia. E quando o contexto me obriga a agir em áreas cujo o meu conhecimento é limitado, certamente não o faço com a confiança de quem sabe (em si, uma forma de arrogância).

Já dizia a minha Mãezinha (RIP): ‘Mais vale estar calada e deixar que pensem que sou inteligente, que abrir a boca e permitir que descubram que sou ignorante’.

“Queres dados? Espera pelo fim de semana, ou pela próxima “ladies night” ou o próximo jogo de futebol.”

Esta refutação já se está a tornar longa. Como tal, constato apenas, que, esta observação não acrescentou absolutamente nada ao debate (além de reforçar a visão falsa e falaciosa de toda uma região e população). Continuando assim á espera de dados concretos — como, por exemplo, aqueles citados neste artigo, e que motivaram esta interação.

“Continuas a bater na tecla do eu estar longe como se o que se passa ai fosse algum segredo.”

Também residi fora do Algarve, durante sensivelmente uma década. As coisas mudam, e as fantasias que criamos em torno de memórias de experiências limitadas não refletem a realidade de ninguém — nem a nossa. Assim como quando se brinca com um bebé, lhe tapamos os olhos, e ele pensa que desaparecemos só porque ele não nos vê… Mas o bebé tem desculpa.

O segredo está num misto de perspetiva e humildade. Perspetiva de saber que as coisas mudam com o passar do tempo (o que, por vezes, é difícil de processar emocionalmente), e humildade para saber que a nossa experiência imediata (nós, os nossos amigos, e o quintal em que crescemos) não refletem o Mundo, nem o País, nem a Região.

Daí a necessidade de dados, para contextualizar coisas que vão além da nossa compreensão imediata, porque palpites não são ciência. O melhor exemplo sendo o movimento terraplanista, que argumenta que o Planeta é plano e não esférico (oval), porque não conseguimos ver imediatamente a curvatura do mesmo.

Acresce também o facto de que as nossas memórias são mecanismos extremamente falíveis. Que apesar de ancorarmos na nossa consciência alguns momentos particulares, os nossos cérebros tomam bastantes liberdades criativas, de modo a fornecer uma coerência biográfica e narrativa à nossa existência neste mundo.

Ou seja, o estar longe, cronológica e geograficamente, vão sempre ser fatores relevantes num debate de quem julga e generaliza todo um conjunto de seres humanos, crucificando-os a noções falsas e estereotipadas, que só refletem os preconceitos do comentador para com os seus conterrâneos.

Poderia até falar em certos complexos de superioridade, mas isso seria especulativo, e intelectualmente desleal — por isso paro por aqui.

“Parte do problema e não da solução são pessoas que falam muito. O que tu estás a fazer é normalizar a vida que nos levou a chegar a esse ponto. A próxima geração vai continuar a pensar que tem o direito de viver essa vida sem consequências.”

Se essa observação foi uma tentativa frustrada de me classificar como ‘parte do problema’, falhou. Visto que o proverbial carapuço não me serve, — ou, como já dizia o Samuel Mira, “Quem se pica, é quem se identifica”, e eu certamente, não me identifiquei — o mesmo volta a refletir as insuficiências e incoerências intelectuais do comentador.

Uma pessoa que na face de problemáticas importantes decide que a exploração intelectual dos mesmos faz parte do problema e não da solução, é também, por consequência, uma pessoa que não reconhece a validade de pensar antes de agir. E, na ausência de pensamento, sobram apenas duas avenidas de ação possíveis:

(1) continuar a agir em ‘modo automático’;

(2) agir impulsivamente.

Na prática, nenhuma dessas avenidas nos levará a nenhum destino produtivo:

(1) Se realmente existe um reconhecimento da problemática que afeta a região, então, como poderia a perpetuação de comportamentos contribuir para uma mudança na situação? Esta é a definição de insanidade, segundo a máxima (falsamente) atribuída a Einstein: ‘Fazer a mesma coisa repetidamente, e esperar obter resultados diferentes’.

(2) Impulsividade, especialmente do tipo ‘precognitivo’ aqui referido — a adoção radical de novos comportamentos sem qualquer tipo de trabalho mental preparativo — é algo contextualmente adequando para lutas de bares entre pessoas com limitações graves de pensamento (por embriaguez, por exemplo). Mas, se estamos a ser honestos e sinceros acerca do melhoramento de vidas humanas, creio ser fácil perceber que essa não é a estratégia adequada para mais que destruir, fazer barulho, e resolver absolutamente nada.

Até eu me canso de ter de reverter á questão da ausência de factos concretos. Mas esse é provavelmente o tema que define a linha de ‘pensamento’ deste comentador: Por motivos desconhecidos, o mesmo ‘dispara’ certezas edificadas exclusivamente com base em emoções e fantasias substanciadas por experiências pessoais (e limitadas) passadas, que depois tenta pintar como factuais, apesar de tudo indicar o contrário.

Opiniões, como se diz na gíria, são como ânus, todos têm um, e o seu propósito primário é a ejeção de matérias toxicas ou nocivas.

Para normalizar “a vida que nos levou a chegar a esse ponto”, eu teria que estar a descrever um ‘Estilo de Vida’ para começar (que qualquer pessoa que tenha lido o artigo na integra saberá que é inexistente). Não existe uma única experiência, nem maneira de estar, de um ‘Algarvio’ — isso só é possível caracterizar através de narrativas falsas (sem quaisquer tipo de dados), ou de experiências limitadas (cujos egos desproporcionais pensam ser representativas de TODOS os [mais de 460.000] habitantes do Algarve).

Para alguém sentir que ‘tem o direito’ de viver de que forma seja ‘sem consequências’, tanto o sujeito como a forma de vida têm que ter formatos cientificamente definidos. Essas vidas fictícias não existem, e uma pessoa que quer á força (da teimosia e não da lógica) que essa falsa narrativa seja verdade, só prova o desdém que o mesmo tem pela região e as suas gentes.

“Pessoas que te dão razão são pessoas que gostam de se vitimizar, neste momento estão a pensar ‘tens toda a razao Viriato, vem ai o verão e eu não posso kurtir [sic] o meu algarve como os turistas fazem’”

Dos vários componentes que se podem observar neste comentário, a irrevogável arrogância desmerecida do comentador é a mais saliente. Porque demonstra que, todos os que não concordam com as afirmações falsas e proferidas pelo mesmo, se estão a vitimizar ou têm aspirações fúteis.

Posto de outra forma, a pseudoestratégia retórica aqui aplicada é:

‘ou pensas como eu, ou és uma merda’.

Mas nem nas tentativas de ridicularização, o mesmo consegue ter qualquer tipo de rigor factual, visto que algumas das pessoas que visivelmente expressaram concordar com a necessidade do artigo em questão, nem residem no Algarve (incapacitando-as assim de querer ‘kurtir [sic] o seu algarve como os turistas fazem’).

Adicionalmente, (e como se torna óbvio para qualquer pessoa com os níveis mais rudimentares de funcionalidade intelectual) o propósito do artigo foi a identificação de problemas mais complexos que comportamentos individuais. Um ponto que já esclareci o suficiente acima, com a analogia do diagnostico médico, em que podemos culpar o paciente de tudo o que quisermos, mas isso não vai contribuir de forma alguma para a superação da doença.

No contexto do artigo em causa (artigo que suspeito não ter sido lido na integra), assim como esta refutação, é bem claro que os problemas são de cariz estrutural, e mesmo se todos virássemos straight-edge (abdicar radicalmente de quaisquer excessos), os mesmos continuariam.

Por esta altura acho só triste e frustrante que alguém esteja tão emocionalmente (porque racionalidade sem factos não existe) investido em rebaixar um coletivo de Seres Humanos, rotulando o seu sofrimento de autoinfligido.

“Porque qualquer pessoa com dois dedos de testa consegue olhar para trás e ver as oportunidades que desperdiçaram e não as que lhes tiraram. Mais uma vez, tu e os teus sao uma minoria muito pequena. A maioria continua a pensar que a ‘vida são dois dias’. Tenta mudar a maneira de pensar do algarvio, aí é que devia estar o foco, e não em continuar a criar futuras gerações que pensam que sem esforço tudo se consegue.”

O que se aplicou na analogia suprarreferida de ‘quem tem olhos na cara’, se aplica a estes ‘dois dedos de testa’. Apesar de termos crenças muito fortes infundamentadas, não as faz mais verdadeiras. Isso é toda a premissa da critica aos (por exemplo) fundamentalismos religiosos, em que só porque queremos muito acreditar (por exemplo) na conceção imaculada, a mesma simplesmente não é comprovável com base em factos concretos.

Ou seja, apesar do facto de que o comentador quer muito acreditar que todos os Algarvios são preguiçosos, carecem da capacidade de pensar e fazer planos a longo prazo, e serem mais disfuncionais que todos os Portugueses, o mesmo não o torna verdade.

Em relação a ‘mim e aos meus’, também já foi referido acima. Mas consigo garantir que a nossa proatividade não acontece num vácuo; E certamente não é fruto de iluminados de bancadas distantes a cuspir ódio e ignorância. Compreender os fatores que demarcam a nossa área de ação, compreender as causas das coisas — ou, como diz o lema da LSE [London School of Economics & Political Science]: “rerum cognoscere causas” -, é tão essencial como ter referências que nos inspirem e guiem por entre esses mesmos caminhos.

Se vamos tentar aprender a andar de skate dentro de água, ou surfar no skatepark, vamos ter experiências catastróficas. Mas se estamos rodeados de pessoas que nos dizem que não estamos a insistir que chegue em ambos os exercícios, e que estamos a perder tempo e a ser preguiçosos ao tentar perceber porque não funcionam; É claro que nunca vamos nem aprender a skatar, nem a surfar.

No que toca a mudar ‘maneiras de pensar’…
Finalmente podemos concordar com algo, pois é isso mesmo que estou a tentar fazer. E tudo o que o comentador sugere, com base em limitações geográficas e cognitivas, é exatamente o oposto a mudar o que quer que seja.

Com base nos factos já oferecidos e repetidos até à exaustão — sobrecarga horária, disparidade e insuficiência salarial, insatisfação laboral, entre outros — não existe um único fator indicativo de que o Algarvio seja pior, nem menos trabalhador, nem mais predisposto a ir para festas, que qualquer outro português. O que vejo, factualmente fundamentado, são gerações presentes e passadas que mesmo a viver em esforço, nada conseguem ter e construir (e cada vez menos).

“Um ditado muito antigo, ‘queres ter o meu viver? Trabalha, malandro’”

Se para cada frase feita, ditado e convicção, o comentador se tivesse esforçado com factos, esta interação teria sido infinitamente mais produtiva. Mas, a ironia de uma pessoa emigrada, sugerir que se alguém quer o ‘seu viver’ (seja esse ‘viver’ qual for — pois não falo do que não sei) tem que ‘trabalhar’ (que é algo que também já constatámos que se faz, e muito nesta região) não me ultrapassa. Ou seja, escrevo um artigo que tenta formar desconstrução racional de problemas complexos acerca de uma região, e o comentador não só insulta as pessoas da região, como sugere de ele (que não vive no Algarve) é o exemplo do que deveria ser feito para melhorar o Algarve… será que não lhe passou pela cabeça se seguíssemos todos o seu exempli á letra, apenas sobraria Algarve, e não Algarvios?

Enfim, apesar de todas as minhas limitações e deficiências, amo demais o solo que me criou para cuspir nele; e o ‘solo’ é só terra e lama quando dele retiramos os Seres Humanos que lhe atribuem Vida e Significado.

‘Com isto quero dizer que, nunca vais mudar os de cima sem mudares os de baixo primeiro’

Visto que já detalhei suficientemente ambas as temáticas, descodifico apenas os temas recorrentes nesta cruzada para ter razão por parte do comentador — e como todos sabemos, cruzadas nunca trouxeram nada de bom.

Os de cima’, assim como, ‘os de baixo’ são terminologias reminiscentes dos já referenciados e mitológicos ‘Eles’. Esta falta de precisão, e incapacidade (ou mera falta de vontade) para contribuir de forma concreta para qualquer tipo de debate ou solução, refletem mais uma vez as inclinações pessoais do comentador, e não a realidade.

E, como acima referenciado, o propósito destes exercícios é o apelo á consciencialização por parte de todos envolvidos no processo de moldar o Algarve, sejam eles os ‘de cima’, ‘de baixo’, de lado, de frente, de trás, ou a fazer o pino — Mas são os que cá estão, e também os que (de uma forma ou de outra influenciam), mesmo á distância, o rumo do desenvolvimento da região.

A consciência que a propagação de estereótipos negativos e falsos que justifiquem espezinhar Seres Humanos, não são nem um contributo, nem uma participação construtiva, deveria ser óbvia.

Mudança implica liberdade, de vida e de pensamento. E congelar pessoas em papéis imaginários, limita essa liberdade.

Comentário #5

“Tu és o rir mano. Estas a falar com uma pessoa que viveu essa vida mais que tu, de tal maneira que tive de sair do meu Algarve se queria que algo diferente. E ao meu lado estavam muitos, não poucos. Não sei que exemplos queres que te dê. Ignoras assim tanto a vida que os teus amigos levaram e levam para chegar no estado que chegou? A maior parte de nós vêm de famílias que já são pobres, pais bêbados, ou sem pais sequer, acolhidos por outro familiar. A maior parte de nós encontra conforto no álcool e nas drogas sem ninguém para dizer que já chega, a maior parte de nós tem filhos por causa de uma bebedeira. E muito provavelmente a maior parte das crianças que falas vêm de pais que foram ou são irresponsáveis. Mesmo não vivendo aí faz anos, ainda te consigo perguntar, em que Algarve e que vives? Lol. Fala em educar as próximas gerações, fala em dar apoio aqueles que em vez de se dedicarem ao que gostam com unhas e dentes vão comprar uma litrona para ajudar a esquecer a vida que têm ou o que passaram. Fala num Algarve saudável primeiro. Fala em normalizar procurar ajuda para resolver os problemas mentais que as pessoas têm. Talvez assim as pessoas comecem a ter consciência no que está mal em vez de culpar tudo e todos menos eles próprios. Isso para mim e tudo conversa de quem está à procura de elogios e não soluções.”

“Tu és o rir mano. Estas a falar com uma pessoa que viveu essa vida mais que tu, de tal maneira que tive de sair do meu Algarve se queria que algo diferente. E ao meu lado estavam muitos, não poucos. Não sei que exemplos queres que te dê.”

Voltamos a mais temas recorrentes, já explorados ao longo do artigo.

1- A ridicularização de pensamento e eloquência:

Quando alguém se expressa de uma forma além dos moldes daquilo que o comentador acha ‘aceitável’ (ou intelectualmente acessível), a única forma de lidar é através da ‘piadinha’ ou ‘boca’. Se o comentador contribuísse para o debate, de alguma forma, ainda seria minimamente produtivo. Assim, apenas sobra uma mera intenção de obstruir e cessar o mesmo; assim como a consequente admissão da carência das ferramentas necessárias para o fazer.

2- Também já estabelecemos que experiências altamente pessoais e limitadas (a nível geográfico, cronológico e científico), não refletem nada mais que a postura discriminatória do comentador. Especialmente encapsulado no termo ‘meu Algarve’, visto que:

(1) Não existe um Algarve homogéneo (alguém de Vila Real de Santo António [por exemplo], terá certamente atitudes, referências culturais, e situações socioeconómicas diferentes das de um habitante de Alte; assim como alguém que habite na Horta da Areia, terá experiências diferentes dos que estão nas Gambelas, apesar de ambos serem Farenses);

(2) Os exemplos parcialmente referenciados pelo comentador pertencem á sua autobiografia, biografia essa que não é nem assente no Algarve (como um todo), nem no presente. O mundo material (não-filosófico), não é definido apenas pelo que os nossos olhos vêm ou viram; se assim fosse, o oxigénio não existiria, e a Terra seria realmente plana.

No que toca á escolha de emigrar, a mesma é legitima, tem muito mérito (pois sei bem, na primeira pessoa, que não é fácil), e até creio ser necessária por vários motivos. Mas não creio que seja a credencial certa para estar a definir o que é um Algarvio, nem o que é o Algarve.

“Ignoras assim tanto a vida que os teus amigos levaram e levam para chegar no estado que chegou? A maior parte de nós vêm de famílias que já são pobres, pais bêbados, ou sem pais sequer, acolhidos por outro familiar. A maior parte de nós encontra conforto no álcool e nas drogas sem ninguém para dizer que já chega, a maior parte de nós tem filhos por causa de uma bebedeira. E muito provavelmente a maior parte das crianças que falas vêm de pais que foram ou são irresponsáveis. Mesmo não vivendo aí faz anos, ainda te consigo perguntar, em que Algarve e que vives?”

O tema da ridicularização mantém-se, assim como uma tentativa básica distorção da narrativa com apelo a emoções pessoais. Claro que não ignoro os que me rodeiam, e o meu trabalho fala por si o suficiente para o comprovar.

O facto de não ignorar, e conhecer, não só as situações que me rodeiam, mas também o potencial humano daqueles que o comentador rotula de ‘preguiçosos’ (e coisas piores), faz também parte da razão pela qual me dou ao trabalho (ao contrário dos cuspidores de ódio de bancada) de aprofundar e procurar diagnosticar os problemas que precedem as possíveis soluções necessárias.

O oposto seria continuar a fazer o mesmo que se tem feito desde que sou gente (e provavelmente antes): rotular toda uma população de coisas que não são, e seguir em frente.

Vejamos então às acusações acerca daquilo que a maioria dos Algarvios são:

-Pobres.

-Filhos de bêbados.

-Abandonados pelas famílias.

-Salvos por familiares fora do agregado familiar.

-Bêbados.

-Drogados.

-Sem redes de apoio.

-Responsáveis por criar famílias enquanto bêbados.

-Irresponsáveis.

Com tanta violência e ignorância junta, quase que não reparamos no mais importante: ‘A MAIORIA’.

Existem casos extremos, onde quer que existam pessoas; pois onde quer que existam pessoas, existe a possibilidade para o acontecimento de todas as ações associadas ao espetro de ação e influência humana: do ódio, á indiferença, ao amor — e tudo pelo caminho.

Mas, quando rotulamos casos particulares como sendo ‘a maioria’ estamos então a caracterizar toda a uma região e população de tal. O comentador assume então que existe uma maior probabilidade de encontrarmos um/uma Algarvio/Algarvia bêbados/drogados/abusivos/negligentes/irresponsáveis, quando comparados com outros portugueses.

Talvez seja algo na água que bebemos (se é que bebemos alguma, visto que só sabemos, na nossa maioria ingerir álcool e drogas para fazer filhos que abandonamos), ou no Sol a mais?

Mas mesmo se existisse alguma réstia de verdade ou integridade nas acusações feitas, a tendência (mais uma vez, destrutiva) desta pessoa, e a intenção da mesma se tornam óbvias: falar mal, sem qualquer empatia, e muito menos com soluções — frases feitas como ‘Vai trabalhar malandro’, não é uma solução, porque, com base nos factos citados, ‘trabalhar no Algarve’ é o que já acontece há muito tempo, e nada mudou.

Eu sei que todo este exercício reflete, como tenho mencionado, muito mais as tendências discriminatórias do comentador para com os seus conterrâneos, do que a realidade. Mas de qualquer das formas, é triste ver tamanha desumanidade.

Em que Algarve vivo? Num Algarve habitado por Seres Humanos reais, de carne e osso, com sonhos, com sofrimento, com luta, com defeitos, onde também são cometidos alguns excessos, e que merecem amor e respeito.

“Fala em educar as próximas gerações, fala em dar apoio aqueles que em vez de se dedicarem ao que gostam com unhas e dentes vão comprar uma litrona para ajudar a esquecer a vida que têm ou o que passaram. Fala num Algarve saudável primeiro. Fala em normalizar procurar ajuda para resolver os problemas mentais que as pessoas têm. Talvez assim as pessoas comecem a ter consciência no que está mal em vez de culpar tudo e todos menos eles próprios. Isso para mim é tudo conversa de quem está à procura de elogios e não soluções.”

Mais uma vez as limitações intelectuais, cognitivas, e emocionais do comentador vêm ao de cima. O artigo nunca mencionou nem referiu casos particulares de indivíduos específicos. Como posso eu falar do ‘Zé’, da ‘Maria’, do ‘Xico’ ou da ‘Marta’, se o foco do artigo foi em estruturas macro-individualistas?

Se estou a falar dos sistemas que levaram ás condições de vida do ‘Zé’, da ‘Maria’, do ‘Xico’ ou da ‘Marta’, e não das suas biografias, porque falaria de casos particulares se os mesmos não refletem o Algarve como ‘um todo’? Enfim, não só passaram ao lado do comentador as conclusões do artigo, como toda a premissa do mesmo. E na face disso, não há muito que se possa fazer, senão esperar que o ‘retorno á escola’ acima referido, se torne deveras uma realidade.

Não posso, nem consigo, ser responsável pelas interpretações deficientes das palavras que escrevo, isso seria um exercício de insanidade, sem resultados nenhuns sem ser frustração e derrames cerebrais.

Também não tenho que escrever acerca do que quer que seja, só porque o comentador pensa que manda — independentemente do que o mesmo acredite acerca da sua influencia ou importância no (meu) mundo; uma influência que partilha algo como o Algarvio que ele ‘pinta’: ambos são conceitos meramente fictícios.

E com que lógica é que uma pessoa pede para que escreva sobre um ‘Algarve Saudável’? Como implica o comentador que fiz exatamente o oposto, e depois rotula a região e os seus habitantes de (e peço desculpa a repetição):

-Pobres.

-Filhos de bêbados.

-Abandonados pelas famílias.

-Salvos por familiares fora do agregado familiar.

-Bêbados.

-Drogados.

-Sem redes de apoio.

-Responsáveis por criar famílias enquanto bêbados.

-Irresponsáveis.

Isto é uma descrição ‘saudável’ do que (e quem) quer que seja?

Os dados comprovam que existem influências bem além daquilo que é a responsabilidade individual, e que comprovam assim a inexistência desses Algarvios mitológicos apresentados pelo comentador.

Porquê, então — além do sadismo e complexos de superioridade do comentador — deveria eu estar a escrever acerca da necessidade de culpabilizar as pessoas erradas? A ‘culpa’ é coisa de Católicos, e é algo que nunca fez nada a não ser quebrar seres humanos, e bloquear soluções concretas.

No que toca a elogios priorizados acima de soluções, a minha vida e maneira de estar na mesma falam por si. Tais julgamentos — acerca do Algarve ou da minha pessoa — são tão distantes de mim que nem me tocam. Com a diferença que não sinto a necessidade de defender a minha pessoa, mas sentirei sempre a obrigação de estancar mentiras e falsidades acerca da região que me criou.

A fantasia fantasmagórica e cataclísmica criada na cabeça desta pessoa, á distância, deve ter sido um filme, uma alucinação, ou um pesadelo vivido, porque, o Algarve não é. E posso dizer que estou farto que nos confundam com aquilo que gostavam que fossemos.

Estereótipos têm consequências reais, pois normalizam e justificam ações e atitudes negativas para com pessoas verdadeiras. Consequências essas, neste caso, amplificadas por credibilidade emprestada de quem cá habitou, mas não soube separar a sua experiência pessoal do mundo real — pois, se um ‘Algarvio’ diz que a sua própria região e conterrâneos são todas as coisas acima listadas, quem de cá não é originário só o poderá acreditar.

Mais grave que engravidar de bebedeiras imaginárias, é ‘emprenhar pelos ouvidos’. E é tão mais difícil abortar uma mentira que uma gravidez. Algo constatado por um artigo que deu mais trabalho a escrever que um comentário de passagem, motivado simultaneamente pela vontade de ‘querer ter razão á força’, e de validar as próprias escolhas de vida de alguém que, ao invés de destruir o Algarve de dentro (como acusa todos os restantes de fazer), escolhe fazê-lo de fora.

Ignorância gera ódio, e a única cura para ambos é conhecimento e aprofundamento intelectual; mas claro, ambos são exercícios que exigem mais esforço que escrever comentários de passagem no Instagram.

Bibliografia/Referências

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Lusa (2023), “OCDE recomenda que Portugal reforce inspecções de trabalho para “evitar abusos” — https://www.publico.pt/2023/10/03/economia/noticia/ocde-recomenda-portugal-reforce-inspeccoes-trabalho-evitar-abusos-2065434

MadreMedia (2024), “Portugal está a beber mais e mais cedo. Consumo diário de álcool sobe entre os jovens” — https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/portugal-esta-a-beber-mais-e-mais-cedo-consumo-diario-de-alcool-sobe-entre-os-jovens

Magrini, J. B. (2018), “O Algarve é a região onde se trabalha mais horas em Portugal” — https://visao.pt/exame/2018-01-23-o-algarve-e-a-regiao-onde-se-trabalha-mais-horas-em-portugal/

Neves, C. (2023), “Portugal distingue-se por ter mais tráfico para abusos no trabalho” — https://www.dn.pt/sociedade/portugal-distingue-se-por-ter-mais-trafico-para-abusos-no-trabalho-16178822.html/

Notícias Magazine (2016), “Falsas Memórias” — https://www.noticiasmagazine.pt/2016/falsas-memorias/bem-estar/13575/

Oliveira, R. P., Barros, R. (2023) “Portugal tem dos trabalhadores mais insatisfeitos da Europa. Porquê?” — https://www.publico.pt/interactivos/portugueses-mais-insatisfeitos-trabalho-europa/

Patrício, I. (2023), “”A cultura de trabalho em Portugal valoriza a dedicação excessiva”. Existe um estigma relativo a “ambientes de trabalho mais felizes” — https://cnnportugal.iol.pt/trabalho/cultura/a-cultura-de-trabalho-em-portugal-valoriza-a-dedicacao-excessiva-existe-um-estigma-relativo-a-ambientes-de-trabalho-mais-felizes/20230930/65168184d34e65afa2f5d713

Patrício, I. (2023), “Portugal é o sexto país da Europa onde a semana de trabalho é mais longa” — https://tvi.iol.pt/noticias/trabalhadores-portugueses/uniao-europeia/portugal-e-o-sexto-pais-da-europa-onde-a-semana-de-trabalho-e-mais-longa/20230921/650b01e3d34e371fc0b7d8f0

Patrício, I. (2023), “Trabalhadores portugueses são dos que trabalham mais horas na EU” — https://eco.sapo.pt/2023/09/20/trabalhadores-portugueses-sao-dos-que-trabalham-mais-horas-na-ue/

Roche (2022), “Consumo de álcool em Portugal mostra um panorama assustador” — https://www.corporate.roche.pt/atualidade/consumo-de-alcool-em-portugal-mostra-um-panorama-assustador

Rodrigues, H. (2017), “Sindicato acusa Pestana Algarve Race de abusos laborais, empresa nega que trabalhadoras sejam suas” — https://www.sulinformacao.pt/2017/07/sindicato-acusa-pestana-algarve-race-de-abusos-laborais-empresa-nega-trabalhadoras-sejam-suas/

Santos, N. F. (2023), “Voltámos a sair de casa dos pais (mesmo) antes dos 30: aos 29,7 anos” — https://www.publico.pt/2023/08/11/p3/noticia/voltamos-sair-casa-pais-30-297-anos-2059852

Sam the Kid (2001), “+” — https://genius.com/Sam-the-kid--lyrics

ANEXO

R1

Estereótipos e generalizações, de uma população inteira (que me inclui a mim e aos meus, que eu sei não se encaixarem nesses moldes que descreves). Culpar as vítimas de uma situação que pouco ou nada conseguem controlar, acho que é mesmo parte do problema de quem julga a região lá de bem longe — independentemente dos possíveis laços passados com a região. One love though🛹

R2

Mais uma vez. Estereótipos, não ajudam, nem resolvem o que quer que seja. E enquanto tiver provas empíricas de um problema, versus especulação imaginaria com base em observações limitadas, vou escolher desconstruir o problema pela primeira avenida. Victim-blaming, especialmente sem fundamentos (sem ser extremamente pessoal), não é algo que considere intelectualmente honesto, nem com propósito prático. No que toca a ‘jogar areia para os olhos com palavras compridas’, essa pergunta diz o suficiente a acerca de quem pergunta, para não ter de chegar a responder. Somos todos pessoas, com lutas diferentes, e os Algarvios não escapam a esse padrão de reconhecimento. As estruturas de poder e gestão condicionam mais vidas individuais, que vidas individuais condicionam sistemas. É apenas onde quero chegar com isto 🙌

R3

E os dados que corroborem isso? Gosto de falar em termos claros. Ou fizeste um levantamento (parcial ou completo), que apoie essas conclusões? Mais uma vez, comentários de alguém a julgar de longe. Outra coisa, leste o artigo na integra? Mesmo que toda a gente (menos os sagrados turistas, claro) deixasse de beber e sair, a região deixava de estar dependente de uma economia monosetorial? Mais uma vez, desabafos descontextualizados, que não acrescentam nada ao debate, mas permitem olhar assim um pouco mais de alto para aqueles que são fáceis de estereotipar, e cujo sofrimento e luta são justificados. Estou há procura do propósito/lógica destas intervenções, que dizem que todos os Algarvios existem para beber e se desgraçarem todos; e por consequência merecem e são culpados pela sua posição atual na região.

R4

-No que toca ao facto de te aborreceres com tanto palavreado, e o possível retorno à escola que o mesmo te possa inspirar; não tenho muito a acrescentar, pois, mais uma vez, reflete no interlocutor.

-Ao invés de argumentos concretos, vejo mais uma vez, observações avulsas, que, também refletem mais uma vez, a experiência do autor, e não na realidade. Nem tudo o que conseguimos ver, é tudo o que existe.

-Confundir comportamentos individuais, e que são permitidos a qualquer outra região ou parte do mundo ‘mais ricos’ (haverá coisa mais normal que sair com amigos?), reflete também a predisposição para olhar para os Algarvios como não merecedores desses mesmos luxos normalizados, que existem só para quem pode, e quem teve a sorte de nascer no sítio certo.

-’Pessoas que me dão razão’, têm simplesmente uma capacidade e consciência para perceber que, nem tudo o que vemos com olhos sujos reflete a realidade, e têm imaginação e sofisticação de pensamento para perceber que, se formos simultaneamente os nossos próprios opressores e vítimas, somos só masoquistas então — e uma região inteira de Algarvios que gostam de estar na merda, é algo que não convence ninguém.

-Que oportunidades desperdiçadas? Podes enumerar e citar alguma? É que as mais de 10.000 crianças a viver em pobreza extrema estão documentadas (e provavelmente subdocumentadas).

-A mentalidade do Algarvio só pode mudar, quando ‘o Algarvio’ perceber o porquê de estar onde está. Não esquecendo que os velhos do restelo a gritar lá do fundo ‘vai trabalhar!’, são os mesmos que arrastam e atrasam, com um prazer sádico, qualquer progresso. Porque não lhes encaixa na visão de mundo, ou porque, é mais fácil gritar com o que está em frente aos olhos, que perder algum tempo por entre ‘palavreado que aborreça’. Não existem respostas simples para problemas complexos, e isso assusta muita gente. E o medo tem muitas expressões e formas de se revelar — até sob a ilusão de tentar ajudar a apagar um incêndio demolindo o prédio inteiro (ao menos não morreram queimados).

R4.1

Muito debatível. Como tudo o que é dito em slogans e soundbites é. Daí o propósito de se investir tempo em pesquisar, pensar e escrever. Educar e ordenar são coisas diferentes.

R5

Mais uma vez, tudo especulação; desde a comparação da tua experiência para com a minha, até aos exemplos dados.

O oposto que faço é ignorar os meus amigos, e além; e não temos referências semelhantes acerca da Maioria. E apenas um está a citar factos.

Vejo muitos exemplos, especulativos, e todos reforçados por exemplos escolhidos a dedo, e que reforçam estereótipos negativos acerca de toda uma população.

Mas além da subjetiva e limitada opinião pessoal, não vejo no argumento apresentado nada que não reflita mais que interpretações pessoais e não dados concretos.

Perceber as razões ‘não-imediatas’ de problemas, não é incompatível com o incentivo à procura de ajuda, a educar, a cuidar, etc. Não é esse o tema na mesa, e faço a minha parte todos os dias nesse sentido.

Mais uma vez, vejo generalizações, que não refletem TODA a população do Algarve; que não define, nem demonstra o quotidiano de um Algarvio. Não somos uma maioria de bêbados e drogados que maltratam crianças (como se tal fosse preciso reforçar).

Em relação ao Algarve em que vivo… é aquele que tento melhorar um pouco, de acordo com as minhas limitações, e sem perder fé nos meus conterrâneos (muito menos rotulá-los do que quer que seja).

Nunca disse que o Algarve não é ‘saudável’, apenas apontei um problema estrutural que condiciona vidas e futuros. Não escrevi nada acerca dos Algarvios, mas sim acerca da região, são coisas diferentes; e uma dessas razões para insistir nesta interação.

Pessoas não são rótulos, e apesar de todo o poder que temos sobre algumas coisas, outras estão aquém de ações individuais. Simples.

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Viriato Villas-Boas
Viriato Villas-Boas

Written by Viriato Villas-Boas

Observing & Commenting.● MSc Comparative Politics ■ London School of Economics and Political Science《》 B.A. Journalism & Media ■ Birkbeck, University of London

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